Anedota de Ocasião *quentíssima

Essa foi demais. Terminei, às 00:30 aproximadamente, de internetar aqui e lá vou eu me preparar pra dormir. Olho pra minha cama, convidativa demais, pelo friozinho que faz no quarto e pelos 15 pernilongos em derredor (mas paciência que a anedota é grave e é mais à frente). Deito-me, obedecendo a regra do português onde eu jamais "me deito" (parece que o certo é ficar acordado: "Não me deito", o inverso é pecado) e vou perdendo a noção entre o real e o imaginário. Meu canário vai longe visitar lugares que o prenderam, e pessoas a quem ele quer bem. Maior paz. Ventinho batendo de lá pra cá (do ventilador, vá lá, mas a esse ponto não distinguo nem tenho preconceitos) e me fazendo bem. Ah, o sono, a primeira coisa que deve ter saído da caixa daquela mulher grega curiosa, como era o nome dela mesmo ? Amanhã eu lembro... por sinal, grega ou espartana ? Olha! Como é que pode um camelo aqui dentro gente ? E quando foi que vocês chegaram ? Ai meu Deus, esqueci de por água pro peixe...... (e por aí fui...)

DERREPENTE:
PÁ PÁ PÁ PÁ PÁ PÁ... E meu coração, Bruscamente Despertado do Devaneio, Responde: TUMTUMTUMTUMTUMTUM...
NOVAMENTE:
TÁRÁRÁRÁRÁRÁRÀ... E eu Não Neguei Batimento: TururururururururuAhhhh...

Com o coração saindo pela boca deduzi: Lascou, Bahia! É Tiro! (no começo achei que fosse fogos de art... mas vamos lá... 01:30 da madruga, fogos na esquina da minha casa, só se o vizinho tivesse sido notificado de uma herança aí qualquer... no mais...e fosse dono de um armazém...)

Ouço a voz do meu Pai:

_Thiago! É tiro. E é aqui perto de casa.

Eu salto da cama com a agilidade de um gato e a mobilidade de um tamanduá bandeira e corro pra a sombra dele. Estamos sozinhos em casa (mãe e irmãos fora). Pé-ante-pé vamos até a porta da frente. Uma porta ampla de vidro. Peraí: DE VIDRO ??!! Se JOga, SE joga !
Mas não tinha sido na frente da casa. Restava o que então? O caminho escuro, sombrio, pavoroso, do fundo. Meu pai e eu reunimos a coragem dos nossos ancestrais e seguimos até a primeira porta, que dá acesso ao quintal longo e ainda mais escuro, que dá acesso ao portão dos Fundos para a Rua. (Nessas horas: Tunks tunks tunks tunks... coração SummerHits, Ô Dó!)

Meu pai abre a porta de ferrolho, e segue pro quintal devagar, só ouvindo os rumores na rua, alguma coisa como "pega ele...sujou... quieto aí, quieto aí no chão...central central...".
Depois de ter certeza que a barra tava limpa, de pé no quintal escuro, os vizinhos acordando ou pelo menos sinalizando "pára as balas aí que eu vou sair heim ?" (que agente percebe pelas luzes) eu e meu pai tomamos coragem e abrimos o portão. E pra nossa grande surpresa:

_ Boa noite Seu Pascoal* - diz o capitão da PM (já foi inquilino de meu pai). Susto aí heim ?! (ele ,todo todo, andando torto pelo peso do que eu achava que era um canhão de guerra, mas descobri que é só um fuzil).
_ Que Que aconteceu aí, rapaz ? - pergunta meu pai só pra cobrir os detalhes, já que a cena era clara: O supermercado do fundo da nossa casa, porta arrombada, e um Cash Eletrônico jaz deitado no chão da saída, parcialmente desmontado. Do lado do Cash, mais jazido ainda, um homem baleado! Aparentemente morto.
_ Pois é, seu Pascoal. Absurdo né ?- diz o capitão suando mais que tampa de chaleira - Meliantes aqui, recebemos a chamada, roubando o supermercado, seu Pascoal. Na nossa cara. Chegamos com tudo, metendo bronca. Eles não tiveram tempo de deflaglar um tiro sequer contra nós. Fugiram em dois carros, uma P* e um C* Prata.

O outro Pm sinaliza.

_ Ah é. Sargento ali tá dizendo que na corrida eles deflaglaram três tiros. Mas foi coisa pouca.
_ E os outros ?- diz meu pai.
_ Fugiram de carro. Mas tem gente baleada lá, isso eu tenho certeza. - diz o capitão, ostentando uma pompa de "Senhor das Armas + O último Samurai". - Eu corri até o fundo do mercado, eles dando a volta no quarteirão, quando destampei na esquina, o carro deles quase me pega, aí era eles ou eu: Meti bala pra dentro. Não ficou pedra sobre pedra. Tem gente baleada lá.

Então uma paradinha aqui. Resumindo: Assalto à Supermercado. Possível meliante baleado e morto no local. Outros fogem com o carro peneira deles socado de meliante pra tentar escapar da eficiente polícia da bahia, que segundo o rádio do capitão: "não tem viatura ? não tem ? Como não tem?", "Rica, Ô Rica... Ligeiro Rica", "Sargento, com brevidade sargento, Com brevidade".

E é aí que começa a desforra.

_Pois é, Seu Pascoal. Taí ó. Taí. Pelo menos um agente derrubou. Eles são de fora. Eles não são daqui não. Esses cara sái de lá da casa da "censurado... hihihi" pra vir tirar a paz do cidadão aqui. - Diz o sargento alternando o diálogo com "atenção aí" quando vinha um carro, e eles voltavam rapidinho pra esquina, à postos pra receber o veículo desconhecido (temendo represália) enquanto agente corria pra dentro. Passado o susto, o diálogo voltava.

E enquanto isso eu pensando na eficiência da PM. Polícia Civil, mesmo se fosse pra marcar hora, ia aparecer só lá pra Março, de tão prestativa. Pensando naquelas operações de Tv, toda aquela organização... nas imagens... até bate um frio na espinha. O homem lá, assaltante de supermercado, morto com uns 4 tiros, não teve tempo nem de se coçar. Mas aí...

_ Taí, Cidadão. - diz o Sargento mais empolgado com o sucesso da operação ainda - Isso é a polícia. Vamo pegar eles, o resto abandonou o carro. Esse aí, vai pra lugar nenhum. Tá mortinho. Quer ver ali ? Quer ver ali ?
_ NÃO, OBRIGADO! - eu digo, rejeitando qualquer que seja a infame utilidade de ver o rosto ou a situação do pobre morto !
_ Aquele ali já Era. - diz o Sargento, no auge - Tem certeza que não quer ver mesmo ? Fotografa lá, Fotografa lá.
Ao que eu digo:

_ COMO É ?!!!

Nem deu pra aproveitar a história do vigia que havia sido rendido no assalto, sobreviveu e veio de lá contando "Ê, seu Pascoal, nasci de novo, nasci de novo"... Então é assim que acontece... Se essa moda infame pega... ou já pegou... tsc... Haja Sangue-Frio...


* Nome Fictício